Não sei o que aconteceu com a gente, o nosso desprezo sempre foi substituído por uma amizade excêntrica. E, hoje, nosso desprezo não é mais engraçado, é, no mínimo, formal. E formalidade nunca teve a nossa cara. Não sei se sinto falta. Aliás, uma pessoa importante faz falta sim, é só que estou acostumada com esse entra e sai de pessoas importantes, que o sentir falta parou de ser algo extraordinário e virou uma coisa natural na minha vida. Eu queria ter sido melhor, mas sei que não seria, porque como você diz, eu prefiro contar o que estou sentindo pra um desconhecido do que pra um amigo que está do meu lado. E você tem razão. Não conseguiria viver com alguém que me conhecesse tão bem, por medo talvez, não sei. Acho que vou mudar isso, mas você não me pegou nessa transição e nem te dei essa chance. O que me deixa aborrecida foi o modo como isso terminou, um modo bobo. "Parem de bobagem", diziam os outros. E eu realmente queria parar, mas algo me impedia. Orgulho, talvez. Nunca achei que seria uma pessoa orgulhosa, mas minhas atitudes me mostram o contrário. É até engraçado como que para alguns eu sou o oposto do que você acha de mim, e o mais engraçado ainda é saber que todos têm razão, eu sou isso tudo mesmo, essa mistura de atitudes e sentimentos que me definem. Você ficou com a pior parte, aliás, viu, porquê ninguém é feito de partes. Muitas vezes confundiu minha educação com falsidade, mas é que até hoje não aprendi a virar o rosto pra ninguém, e nem quero isso. Não gostar de alguém nunca significou destratação pra mim. Isso não está em mim. E nem nego quando você diz que confiar, confiar mesmo, só confio em pouquíssimas pessoas, e que elas talvez nem desconfiem disso. E das que acham que eu confio, só dou uma casquinha do que realmente sou. Aliás, não é questão de ser e sim de sentir. Eu sou assim. E se meu jeito não foi o que você esperava ou queria, eu sinto muito. Mas eu estou melhorando, ou piorando pra alguns, é que querer melhorar a cada dia também faz parte de mim, e talvez a minha definição de melhorar não seja a mesma que a sua, mas a vida anda me dando meios para que isso aconteça e eu estou tentando não desperdiçá-los, apesar de desperdiçar. Eu espero que você não os desperdice, que seja até melhor do que eu. Te desejo uma fé enorme, principalmente em você, porque eu tenho. Nem precisa gostar de mim, só precisa saber que teve um dia que alguém te quis muito bem, mas não soube demonstrar isso.
Fique bem,
Valéria.
Cartas que eu não mando (II)
quarta-feira, 24 de março de 2010
Postado por Valéria A. às 18:15 4 comentários
Marcadores: cartas que eu não mando
terça-feira, 9 de março de 2010
São tudo histórias, menino. A história que está sendo contada, cada um a transforma em outra, na história que quiser. Escolha, entre todas elas, aquela que seu coração mais gostar, e persiga-a até o fim do mundo. Mesmo que ninguém compreenda, como se fosse um combate. Um bom combate, o melhor de todos, o único que vale a pena. O resto é engano, meu filho, é perdição.
Caio Fernando Abreu
Postado por Valéria A. às 13:30 0 comentários
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